Dener de Sousa
Palavra Pintada

Arthuro Cordume

Quadro Virado â€‹â€‹â€‹â€‹â€‹â€‹â€‹


Não vejo a emoção, pinceladas ou formas
Cobre-me um tom pastel sujo, uniforme
Amarelecido de poeira e umidade, o tecido
Igual a cor que, tu alma, da amargura tomas

Nem a moldura se vê, coberta de papel e cola
Está dependurado, sou apenas um quadro virado
Nada para mostrar, e a cobrir uma sombra apenas
Sob a cálida e dançante luz de uma pobre vela

Mácula na gasta cal e da nudez sob as sombras
Nas paredes não há adorno, o virado quadro apenas
Espalhando a tua mancha-mortalha na alva cova
Teu vulto destoante, meus medos todos lembras

Ao centro a mesa, eu no tampo apoiado e a vela
Não nos olhamos, o quadro e eu, de costas virados
Mas a mesma visão partilhamos de caia escorrida
Nossa dor e a falta de pranto o mesmo luto revela

A cadeira vazia de encosto partido e ausente
Serve de apoio ao pé e ao castigado corpo
Incapaz por feridas cerradas e nunca curadas
O fardo das fendas de um ser agora descrente

Nem a cruz pendurada na porta ainda acredita
Agora esquecida, espera um olhar improvável
Um rasgo de fé, um sinal, mas crer já não mais
Que foi um dia, à pouco, noite e dia bendita

O gasto chão de madeira podre e partida
Imita um reclame a cada passo, em cada gesto
Que junto comigo e a mesa sem aviso cessa
Aqui, agora, o silêncio, a vela e minha agonia 
Não há paz nesta cova, apenas um penoso sofrer

Um dia irei virar o quadro, ei de me virar também
Um dia estarei limpo, bem trajado e o quadro virado
A cova então não terá vela e terá o chão de terra


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